A escrava Francisca da Silva nasceu entre 1731 e 1732 – os historiadores não conseguem indicar uma data exata – no Arraial do Tijuco, atual cidade mineira de Diamantina.
Elas fazem a diferença
Chica da Silva
A escrava Francisca da Silva nasceu entre 1731 e 1732 – os historiadores não conseguem indicar uma data exata – no Arraial do Tijuco, atual cidade mineira de Diamantina. Fruto de um relacionamento extraconjugal do português Antônio Caetano de Sá com a escrava Maria da Costa, ela cravou o nome na história como Chica da Silva, uma das personagens mais populares do Brasil.
Não à toa a trajetória dela ganhou a televisão e o cinema nacionais. Chica se envolveu com um dos homens mais poderosos da sua época na região mineira, o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, que lhe alforriou, ou seja, tornou-a livre. Os dois foram amantes e tiveram 13 filhos.
Há muita controvérsia na forma em que se retrata a história e a personalidade de Chica da Silva. A primeira obra a citar a ex-escrava foi “Memórias do Distrito Diamantino”, de Joaquim Felício dos Santos. Escrito em 1853, o livro descreve a mulata como uma mulher feia, cheia de feições grosseiras e que escondia a cabeça raspada sob perucas. Mesmo com a descrição negativa, o registro histórico é considerado significativo.
No entanto, a partir da segunda metade do século 20, ela passou a ganhar aspectos positivos em variadas narrativas. Uma mulher bela, refinada, cercada de luxo e riqueza. Tornou-se ainda “a primeira heroína da nascente nacionalidade brasileira”, como define a biografia “Chica da Silva e o Contratador de Diamantes”, da historiadora Júnia Ferreira Furtado, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A imagem mais difundida que se tem até hoje da ex-escrava é de que ela era sensual e libertária. Em 1976, a obra de João Felício dos Santos, sobrinho-neto de Joaquim Felício dos Santos, “Xica da Silva” – o livro trocou o “ch” pelo “x” na grafia do nome -, criou um mito no País que mais tarde ganhou ainda mais força no filme de Cacá Diegues com o mesmo nome. Ela passou a ser vista como uma mulher a frente de seu tempo.
Mas, segundo relatos da historiadora Júnia, Chica estava alinhada às ideias da época dela, pois mais de 50% dos chefes de domicilio no Arraial do Tijuco eram ex-escravas. O envolvimento com homens ricos e brancos era o meio para se chegar à alta sociedade.
Ao contrário do que muitos acreditam, a maior parte das escravas que conseguiam mudar o status social não entravam num processo de afirmação da raça, contudo sim de aceitação dos valores e hábitos da elite branca. Era o modo que encontravam para serem aceitas.
O livro “Chica da Silva e o Contratador de Diamantes” desmistifica a personagem ao mostrar que ela não foi libertária, contudo que possuiu escravos e ganhou espaço e respeito na fechada elite mineira por seguir os padrões sociais da época. Prova disso é que, em 1796, quando morreu, foi enterrada no cemitério da Igreja de São Francisco de Assis, o que era privilégio dos brancos ricos.
Mas, diferente da maioria das mulheres do século 18 e mesmo na condição de ex-escrava, Chica não ficou no anonimato. Tornou-se uma importante personagem da história do País com destaque em obras literárias, peças teatrais, em novela de televisão (na extinta TV Manchete, em 1996) e no cinema (personagem interpretada pela atriz Zezé Mota).
Saiba mais sobre a visitação à casa de Chica da Silva.
Fontes:
Universidade Federal de Minas Gerais
Fapesp
Fundação Cultural Palmares
Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Ministério da Educação
Ministério da Cultura
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